Foi caminhar na praça e não mais voltou para su
Foi caminhar na praça e não mais voltou para sua casa. Sua e filham esperam noticias a dez anos
A Praça do Silêncio
A brisa fresca da tarde acariciava o rosto de João enquanto ele caminhava pela praça. Era um dia como outro qualquer, mas uma sensação estranha pairava no ar, uma inquietação que ele não conseguia explicar. O sol começava a se pôr, tingindo o céu de tons alaranjados e avermelhados. O aroma das flores que adornavam a praça misturava-se ao cheiro de terra molhada pela chuva da noite anterior.
João, um homem simples e trabalhador, costumava dar longas caminhadas pela praça após o expediente. Era o seu momento de paz, de contemplação da natureza e de fuga da rotina. Mas, naquele dia, algo o atraia para mais longe do que o habitual. Um caminho de terra batida, quase invisível entre a vegetação densa, o chamava como um canto de sereia.
Sem pensar duas vezes, ele se aventurou pelo caminho estreito. A cada passo, a mata se fechava ao seu redor, as árvores imponentes se erguiam como sentinelas silenciosas. A luz do sol se esvaía, e o crepúsculo se instalava em um silêncio quase ensurdecedor.
João, fascinado pela beleza do lugar, seguiu em frente. O caminho se tornava cada vez mais estreito, a vegetação mais densa. O ar fresco e úmido da tarde se transformou em um vapor denso que lhe dificultava a respiração.
De repente, ele se deparou com uma clareira. No centro, uma cachoeira de águas cristalinas despencava de uma altura impressionante, formando um poço límpido e profundo. A água, que se quebrava em um milhão de gotas brilhantes, emanava uma energia vibrante, capaz de hipnotizar qualquer um.
João, tomado por uma sensação de paz e tranquilidade, se aproximou da cachoeira. O som da água caindo, a beleza do lugar e o ar puro que lhe invadia os pulmões o envolveram em uma aura mágica. Ele se sentia em outro mundo, um mundo de paz e beleza inigualável.
Sem perceber, o tempo passou. A noite caiu, e a escuridão se instalou na floresta. João, atônito, percebeu que não conseguia encontrar o caminho de volta. A mata parecia ter se tornado um labirinto sem saída.
Ele gritou por socorro, mas sua voz se perdeu na imensidão da floresta. O medo o invadiu, mas ele se esforçou para manter a calma. Tentou se lembrar do caminho que havia percorrido, mas tudo parecia diferente na penumbra da noite.
João vagou pela floresta por horas. A cada passo, o desespero aumentava. Ele se sentia perdido, sozinho e desesperado. Sem comida, sem água e sem esperança de encontrar o caminho de volta, ele se viu à mercê da selva.
Enquanto isso, em sua casa, Maria, sua esposa, e a filha, Ana, esperavam ansiosamente por seu retorno. A noite caía, e a preocupação aumentava a cada minuto que passava. João nunca se atrasava, e a falta de notícias o tornava cada vez mais inquieto.
Maria ligou para todos os seus amigos e familiares, mas ninguém sabia do paradeiro de João. A polícia foi chamada, e uma busca na floresta foi iniciada.
Dias se transformaram em semanas, semanas em meses e meses em anos. Maria e Ana jamais perderam a esperança de encontrar João. Mas, a cada dia que passava, a certeza de que ele jamais voltaria se tornava mais real.
Dez anos se passaram desde que João desapareceu. Maria, com o passar dos anos, se tornou uma mulher envelhecida e abatida. Ana, que era uma menina quando seu pai desapareceu, cresceu e se tornou uma mulher forte e independente. Mas, a dor da perda de seu pai ainda a assombrava.
A praça, que antes era um lugar de paz e alegria para João, se tornou um local de lembranças e tristeza para Maria e Ana. Cada árvore, cada flor, cada canto da praça trazia à tona a lembrança do dia em que João se aventurou pela floresta e não mais retornou.
A história de João, o homem que foi caminhar na praça e não mais voltou, se tornou uma lenda local. As pessoas contavam a história de seu desaparecimento como um aviso, uma advertência para que ninguém se aventurasse pelas profundezas da floresta.
Mas, mesmo após dez anos, Maria e Ana continuavam a acreditar que João estava vivo. Elas nunca perderam a esperança de reencontrá-lo, de abraçá-lo e ouvir sua voz novamente. A praça, que antes era um lugar de paz para João, se tornou um local de fé e esperança para Maria e Ana.
E, em cada amanhecer, elas se dirigiam à praça, em busca de um sinal, de uma pista que pudesse levá-las até ele. A praça do silêncio, que testemunhou o desaparecimento de João, se tornou o palco de uma história de amor, fé e esperança que atravessa o tempo.