o monstro do pântano
Author:unloginuser Time:2024/10/19 Read: 1965o monstro do pântano
A Sombra no Pântano
O cheiro de água estagnada e terra úmida impregnava o ar, misturando-se com o aroma de pinho e eucalipto. Era uma noite escura, típica da região pantanosa, e o vento gélido soprava, sibilando entre os cipós e as árvores retorcidas. No centro da pequena comunidade ribeirinha de São Bento do Pântano, um medo silencioso se espalhava. Uma nova vítima do Monstro do Pântano havia sido encontrada.
Dona Lucinda, a doce e velha costureira, foi achada sem vida na beira do rio, seu corpo sem marcas visíveis, mas com uma expressão de terror inegável. A notícia se espalhou como um rastilho de pólvora, reacendendo o pânico que já se instalava na comunidade há anos. O Monstro, uma lenda local, era descrito como uma criatura grotesca, de olhos vermelhos brilhantes, com garras afiadas e um rugido ensurdecedor.
João, um jovem pescador e filho de uma família tradicional da região, não acreditava nas histórias do Monstro. Acreditava que o medo era o maior inimigo da comunidade. Determinado a desvendar o mistério por trás das mortes, João começou sua própria investigação.
Seu primeiro passo foi conversar com o velho Antônio, o único sobrevivente de um ataque atribuído ao Monstro há décadas. Antônio, com olhos turvos e voz rouca, contou a história de uma criatura que o havia atacado na escuridão, mas que nunca viu seu rosto.
João seguiu pistas deixadas por Dona Lucinda, encontrando fios de lã vermelha presos a um tronco de mangue. A lã era similar à utilizada pela costureira, mas não se encaixava em nenhum de seus projetos. Com a ajuda de Mariana, a filha de Dona Lucinda, descobriu que a lã era de um novo tipo de tecido que Dona Lucinda havia adquirido recentemente, tecido este que era usado para a fabricação de redes de pesca.
A ligação entre a lã, a rede de pesca e a localização do corpo da costureira indicava que Dona Lucinda havia se encontrado com o suposto Monstro nas margens do rio. A história da criatura, contudo, não batia com a investigação de João. As mortes não seguiam um padrão, e não havia nenhuma marca de garras ou ferimentos que pudessem ser atribuídos ao Monstro.
João decidiu investigar a história do tecido. Descobriu que o tecido havia sido trazido por um novo comerciante, um homem misterioso chamado José. João encontrou José e, ao confrontá-lo, notou o nervosismo do homem. José, sem saber, confessou que havia roubado o tecido de uma fábrica próxima e o vendido para Dona Lucinda.
João percebeu que José, ao se confrontar com Dona Lucinda sobre a origem do tecido, havia se assustado e, sem querer, a matado. O pânico o fez inventar a história do Monstro para justificar sua ação, espalhando o medo e encobrindo sua culpa.
João, com a verdade em suas mãos, se viu diante de um dilema. Revelar a verdade significaria destruir a paz da comunidade, mas omiti-la significaria deixar um assassino livre. Decidindo que a justiça era mais importante, João confrontou José e, com a ajuda da comunidade, o levou às autoridades.
O caso do Monstro do Pântano foi finalmente desvendado. A criatura lendária, por mais aterrorizante que fosse, nunca existiu. O medo, porém, permaneceu. As histórias de monstros, muitas vezes, são frutos da nossa própria sombra, da nossa própria fragilidade e do medo de enfrentar a verdade. E João, mesmo tendo desmascarado a lenda, aprendeu que a verdade nem sempre é fácil de ser aceita e que a sombra do medo pode nos assombrar por muito tempo.